sábado, 9 de novembro de 2013

Tomates verdes egoístas.

Até o mais protozoário dos seres sabe que nunca tive apreço por cozinhar. Menos por resistência do que por falta de oportunidade ou catalisadores: o pouco espírito Amélia da minha mãe passa bem longe do fogão; não fui criada perto de avós e afins; quando fui morar sozinha -- época em que, geralmente, as pessoas aprimoram certas habilidades além do miojo-quando-a-mãe-viaja --, rachava de estudar (por outras várias razões) e não tinha tempo. Somou-se a esse cenário, a disposição pela organização política, a vida profissional (leia-se louca e bandida) ganhou corpo e... bom... cheguei na casa dos quase-30 sem ter um banquete digno para chamar de meu. Não significa, claro, que eu não saiba fazer o básico. Mas em tempos em que ser gourmet é modinha e fazer gastronomia não é mais perda de tempo, estou longe de olhar para a cara do alho-poró e chamá-lo de melhor amigo. Receitas que se intitulam básicas-e-rápidas-de-fazer e me pedem molho curry com misto-de-ervas-finas-colhidas-no-topo-do-tibet me dão preguiça. E olha que morei em BH durante quatro anos. Terra em que adolescentes de 15 anos trocam receitas de pão de queijo no busão voltando da escola. Não desenvolvi aquele prazer quase orgasmático dos cozinheiros ao verem outras pessoas degustando e aprovando o "prato". Só penso na louça para lavar e no quanto nenhuma dessas gulosas contribuiu para o trabalho. Tudo fluía nesse limbo de a cozinha ser o magma da injustiça coletiva doméstica até o molho de tomate. Não sei por cargas d'água, enjoei do molho pronto. Birra total. Eu, ser humano livre das frescuras do povinho gourmet, estava lá... com chiliques e cara feia diante do Pomarola na estante do supermercado. Resolvi encarar a realidade, comprar os tomates vermelhinhos e saciar a recém-exigência surgida das entranhas. Ficou tão bom que resolvi aprimorar. E toda noite, na volta para casa, penso no que posso comprar pelo caminho e, pasmem, cozinhar. Para mim.

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