sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Centrífuga

Aqui no meu bairro, tem um alfaiate, senhorzinho já, muito competente, mas tem seu próprio tempo para fazer as coisas. Só vou lá quando tenho tempo, porque sei como funciona. Fiquei uma hora e meia entre esperar a pessoa à minha frente terminar e ele fazer o meu serviço. Não tive pressa, não tive ânsia, não quase morri de desespero por achar que estava perdendo meu tempo. Na prática, estava. Poderia procurar outro lugar mais ágil. Mas escolhi perder meu tempo no tempo dele. Entre roupas amassadas, riscos de giz, máquinas antigas, zelo para escolher a cor da linha, cuidado na hora de passar a costura, meticulosidade na hora de cortar a barra, a reclamação do metrô e os causos de outra vida, ele realizava o serviço com a destreza que o hábito e os anos lhe ergueram. E eu tinha a certeza de que poderia chegar quem fosse, ele não hesitaria em apressar o trabalho só para ganhar mais dinheiro ou atender um "privilegiado". Terminaria tranquilamente. E foi o que aconteceu. Chegou uma cliente em um desses carrões. Ele fez exatamente o que fez comigo. Pediu para esperar enquanto terminava um serviço sem apertar um passinho sequer no acelerador da máquina.

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