sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Diário de bordo. Sul da Espanha.

Viajar nove horas e meia de Valencia ateh Granada eh preciso. Uma fantastica viagem em deslocamento. Separei o sul da Espanha porque uma das coisas mais incriveis da cultura europeia, para mim, eh a influencia moura. Custou sangue. Muito. E me de uma boa influencia cultural, digna do nome, que foi realizada historicamente cantando o hino das Nacoes Unidas, com pessoas sorrindo, bandeiras multicoloridas e professores de letras fazendo traducoes simultaneas. A historia eh assim. Cruel e fantastica. Tudo bem que nao queria fazer a experiencia com dois arabes atras de mim no onibus conversando entre si durante mais de tres horas. Nem reclamo. Poderiam ser as nove horas e meia. Pior. Cheguei em Granada e corri para conhecer Alhambra. Aprendi, ainda em Portugal, que todos os lugares iniciados pela silaba Al sao de origem arabe. Alhambra eh um complexo que foi uma cidade palatina arabe no seculo 13. Durou assim ateh o seculo 16, quando os reis catolicos fizeram o desfavor tipico. Alhambra revira as entranhas de emocao. De verdade. Ouve-se ateh o gritinho caracteristico da introducao da musica arabe. Gritinho eh um insulto, na verdade. Eh como se um arabe ouvisse o primeiro acorde de uma musica do Tom Jobim e dissesse que comecou o pancadao. Com o tempo, a gente aprende a se policiar. A riqueza de detalhes da cultura arabe na construcao te deixa sem tamanho diante da grandiosidade. Eh preciso dois tempos em cada espaco. Um para observar os detalhes, outro para calcular a suntuosidade. Voce, latino americano, coloque a mao no bolso e pague um audio guia. Nao rola usar o velho metodo de colar no grupo alheio com guia ao vivo. Eles falam baixo em um microfone com o som distribuidos pelo fones de ouvido de quem, claro, pagou. E garanta a sua dignidade para desfrutar de cada pedaco de historia. Sozinho. Se voce, assim como eu, gosta de entrar em todos os museus, exposicoes e livrarias que ve pela frente, tente se conter e nao se descabele diante do palacio Carlos V. A parte catolica construida apos a ocupacao dos reis. Voce vai se deparar com o museu de Belas Artes de Granada. O primeiro museu publico da Espanha. A maior demonstracao de que arte eh ideologia. Sim, existe. Estah lah. Nas figuras dos mouros malvados tentando assassinar os puros, candidos e abnegados padres e reis catolicos. E uma escultura te deixara boquiaberto com a figura da Maria Madalena mexendo nos cabelos. Depois, fui com uma alema e um guia ingles, do Norte, andar pelas bandas de Cuevas. Subimos no ponto alto de Granada. Atravessamos o muro que corta a cidade. As casas sao construidas dentro de cavernas abertas nas montanhas. Voce sobe, e de repente, esta sobre o telhado da casa abaixo. Muitas pessoas ocupam esses lugares. Crise. E muita coisa do bate papo eu nao entendi. Vejam voces que o sotaque do ingles parecia que limpava a garganta a cada silaba. A alema, claro, entendia tudo. E eu ficava com os finais das frases, quando o guia resolvia emitir algum som nasal. Eu desconfio, na verdade, que sobrei em algum love story ali no meio. Portanto nem me dei ao trabalho de participar da conversa. Boa parte do meu objetivo se cumpriu aqui em Granada. Tive um fim de tarde maravilhoso com a vista sobre a Alhambra e a Sierra Nevada. Praticamente consegui enxergar os conflitos que ocupavam minha imaginacao nas aulas de historia do Ensino Medio.

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