sábado, 28 de dezembro de 2013

Etiqueta.

-- Ana Clara, você fica muito em casa, sai um pouco.
[...]
-- Ana Clara, fala com as pessoas, você não está interagindo.
[...]
-- Catso, você só sabe falar de política? Devia ter ficado em casa.
[...]

Balanço das metas da folga de natal.

Acabar a 3ª temporada de Downtown Abbey [check]
Terminar Estrela Distante, do Bolaño [em andamento]
Levar para SP: "A história das internacionais", "A revolução permanente", os últimos volumes de "As Brumas de Avalon", "Por que ler os clássicos", Hannah Arendt e Benjamin [falta separar]
Abastecer-se de shampoo e condicionador para não filar mais o da housemate[check]
Dar um jeito de levar tudo isso, mais os presentes, sem malas, com sacolas, sem parecer muambeira [hopeless]
Ouvir a mãe falar de política da cidade [check]
Visitar o pai e conversar sobre música e sensibilidade [check]
Dormir [com o calor, impossível, talvez hoje]
Comer [check... like a pig]
Beber [água, check, moça de família]
Desligar [tentativa iniciada há 29 anos sem sucesso]

Inescapável.

-- Filha, precisa comprar tinta pra impressora.
-- O que você precisa imprimir?
-- Aquela matéria do Bolsa-Família que você compartilhou...
-- 72% das famílias trabalham?
-- Isso. 
(pausa longa)
-- Quero guardar pra minha história.
-- Nossa, por quê tão assim?
-- Quando o programa começou, em 2005, eu tinha acabado de virar secretária de promoção social de Pedreira (interior de SP). Pra mim, não passava de um programa assistencialista, que aprofundava o projeto anterior do FHC. Sempre fui contra assistencialismo e, como até gente do próprio PT acreditava, aquele era mais um. Mas, claro, nunca deixei de dar à família o que era de direito. E então passei a estudar melhor o programa para aplicar as regras rigorosamente e a entender tecnicamente aquele tipo de ajuda. Foi quando, em 2011, Pedreira teve a maior baixa de beneficiários da RMC. Fizemos uma pesquisa para identificar as razões, ainda atribuída, por muitos, aos resquícios da minha resistência. Descobrimos que as pessoas foram trabalhar, se qualificar e puderam propiciar estudo aos filhos que, nos últimos cinco anos, estavam beirando a pré adolescência. Vi mães de família entrarem pela minha porta, cheias de orgulho, com o cartão na mão dizendo que não precisava mais dele. Vi muita picaretagem, mais de quem tem condições e quer aproveitar uma "boquinha" do que de um cidadão que prefere folgar às custas do Estado...
(Outra pausa longa, me vi parada com o mesmo prato pra enxugar na mão há muito tempo)
-- Quero poder guardar e mostrar isso para...
(hora da retirada estratégica)
-- meus...
(Meia-volta volver)
--... netos.
(Juro ouvir alguém me chamar lá fora)
-- Ana Clara, falar nisto...
(Eu já bem longe)
-- As faixas do Haddad vão bem, mãe, obrigada! Só o IPTU que foi barrado, mas o Parque Augusta, óh, tá tinindo....

Templária

-- Filha, que saudades! Estava te esperando...
-- Eu também, mãe! Que linda! Me esperando... praaa...?
-- Ir ao shopping!
-- Oi?
-- É, oras.
-- Cê jura?
-- Sim.
-- Hoje?
-- É.
-- Véspera de Natal?
-- An-ham.
-- Qual?
(Ainda refletindo se ter a livre escolha entre várias barbáries é uma liberdade)
-- Dom Pedro
(Calafrio na espinha)
-- Fazer o quê?
-- Comprar seu presente.
-- Meu? Só meu?
-- Sim, não quis comprar sem a sua companhia.
(Olha o gooolpe)
-- Sério?
-- É...
(Eu já manjada dos paranauê maternal)
-- Deixa pra depois então, meu maior presente é a sua companh...
-- Ah... mas também faltou ainda a lembrancinha da fulana, beltrana...
(bingo)
-- Mas...
-- Vamos enfrentar isso juntas.
(Como uma espartana convocada para a guerra do Peloponeso)
-- Vale pelo menos almoçar em casa pra poupar a cena do restaurante?
-- Vale. Relaxa, filha, já enfrentamos coisas piores...
--... (suspiros)....
#prayforme

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Retrospectiva.

Não, Zuckeberg, desta vez você não acertou a retrospectiva de 2013. Talvez você não entenda que fazer três viagens internacionais no mesmo ano: Argentina, Europa e Pará (sim, lá é outro país, ainda mais se você anda mais de 500km de chão batido na transamazônica em transporte público) seja tão marcante quanto deixar um terrinha que te deu um time para amar, amigos para admirar e praticamente uma nova identidade: café com leite na medida. Talvez você não entenda o que é voltar, depois de anos, para a província paulista e se reconhecer em algumas coisas, não se identificar em muitas outras e se questionar qual é o seu próprio lugar no mundo. Dificilmente, vai compreender o que é participar de um casamento de uma amiga de infância em que você se debulhou em lágrimas porque aquilo ali também é parte da sua história. Você também não vai entender o que é, inocentemente, ir estudar espanhol em Córdoba e, de repente, criar laços fraternos com pessoas de diferentes continentes. Vai ser muito custoso te fazer alcançar, por exemplo, a felicidade de estar lendo um livro incrível, do seu cronista preferido, comprado em uma feira literária argentina, que ainda não tem no Brasil. Como te convencer que a exposição de arte mais fantástica da minha vida estava em Verona, fiquei lá dentro mais de três horas até minhas pernas racharem de cansaço? E, depois, em Málaga, fui em tanto museu que até sonhei com as obras de Picasso. Sem falar na aventura de fazer o Novecento em Milão de playground com uma amiga italiana; ser salva em Lisboa, depois de desmaiar em um hostel, bater a cabeça na parede por causa de uma baita dor de garganta; e ser interrogada e revistada pela polícia federal marroquina. Não sei em qual check-in te dizer que ainda tive tempo de parar no olho do furacão da selva de pedra chamada São Paulo. De repente. Agora, talvez, do ponto paulistano em diante, você tenha acertado. Mas dois mil e crazy ainda não acabou.