sábado, 28 de dezembro de 2013

Inescapável.

-- Filha, precisa comprar tinta pra impressora.
-- O que você precisa imprimir?
-- Aquela matéria do Bolsa-Família que você compartilhou...
-- 72% das famílias trabalham?
-- Isso. 
(pausa longa)
-- Quero guardar pra minha história.
-- Nossa, por quê tão assim?
-- Quando o programa começou, em 2005, eu tinha acabado de virar secretária de promoção social de Pedreira (interior de SP). Pra mim, não passava de um programa assistencialista, que aprofundava o projeto anterior do FHC. Sempre fui contra assistencialismo e, como até gente do próprio PT acreditava, aquele era mais um. Mas, claro, nunca deixei de dar à família o que era de direito. E então passei a estudar melhor o programa para aplicar as regras rigorosamente e a entender tecnicamente aquele tipo de ajuda. Foi quando, em 2011, Pedreira teve a maior baixa de beneficiários da RMC. Fizemos uma pesquisa para identificar as razões, ainda atribuída, por muitos, aos resquícios da minha resistência. Descobrimos que as pessoas foram trabalhar, se qualificar e puderam propiciar estudo aos filhos que, nos últimos cinco anos, estavam beirando a pré adolescência. Vi mães de família entrarem pela minha porta, cheias de orgulho, com o cartão na mão dizendo que não precisava mais dele. Vi muita picaretagem, mais de quem tem condições e quer aproveitar uma "boquinha" do que de um cidadão que prefere folgar às custas do Estado...
(Outra pausa longa, me vi parada com o mesmo prato pra enxugar na mão há muito tempo)
-- Quero poder guardar e mostrar isso para...
(hora da retirada estratégica)
-- meus...
(Meia-volta volver)
--... netos.
(Juro ouvir alguém me chamar lá fora)
-- Ana Clara, falar nisto...
(Eu já bem longe)
-- As faixas do Haddad vão bem, mãe, obrigada! Só o IPTU que foi barrado, mas o Parque Augusta, óh, tá tinindo....

Nenhum comentário:

Postar um comentário