quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

SP, presente.

Ele não tem a gentileza sempre lista dos mineiros, nem a extroversão e camaradagem aparente do carioca, dificilmente vai tirar uma palavra carinhosa do bolso só para te agradar, tampouco vai se preocupar com as idiossincrasias da sua estúpida vida cotidiana, porque a rotina dele também acorda heavy metal e dorme punk rock. Não adianta reclamar do calor infernal dos últimos milhares de anos, porque ele já leu essa matéria quando acordou, pegou 23 ônibus, 127 trens, 225 metrôs, gastou os últimos 20 reais da carteira para pagar o táxi que correu no caminho para não chegar atrasado no trabalho e, claro, caramba, ele SABE que está calor. Não existe espaço para obviedade no universo paulistano. Pelo menos não para as mais recorrentes. Te digo também que não adianta reclamar do seu drama queen, porque ele conhece infinitos casos piores de gente que se deu mal, sacodiu a poeira e não ficou de chorume; isso quando não for a sua própria história de vida. Paulistano é tipo caranguejo que anda pra frente. Ele vai. Não se sabe exatamente onde, nem como e o quando é sempre agora. Sem volta. Te soa bruto? Não é. A cidade tem uma energia um pouco incrível. Basta por o pé na rua e você é tomado por ela. Pela pressa, pela vida, pela vontade de fazer. Espremida em um trem, calor desumano, sem chuva há quase uma semana, jornada violenta de trabalho, ninguém para de fazer planos. Pense na vida enquanto sobe a escada rolante, mas mantenha-se à direita. Existe organização no caos. Até para os seus 15 segundos de delírio ou de desabafo íntimo, você vai ter que lidar com o outro. Paulistano é sempre o outro. Em uma metrópole que recebe pessoas de vários lugares, aquele com quem você interage sempre vai ter algo a te ensinar sobre a cidade. Mesmo que não se defina paulistano. E então quando você menos espera, está ensinando até seu amigo viaduto-do-cháense qual a saída correta do Anhangabaú. E o sentido exato do trem. Não faz diferença se você nasceu ou não aqui, isso é absolutamente irrelevante neste lugar. O lance é a relação que você cria com São Paulo. Se você é capaz de amar isso aqui, é paulistano. Porque não é fácil amar alguém com tantos defeitos. Mas o dia que você entender o valor de uma presença que pode custar 23 ônibus, 127 trens, 225 metrôs mais a corrida pelo táxi por causa do atraso ou alguns quarteirões a pé segurando a mochila na frente... para encontrar um amigo, ver um parente, tomar uma cerveja ou, simplesmente, voltar para casa, você começa a entender o que realmente é intenso e fascinante na capital paulista.

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